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sexta-feira, julho 12, 2013

Discos que formaram meu caráter (Parte 26) - Rappa Mundi – O Rappa (1996) - Por Marcelo Guido

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Muito bem moçada do bem ou do mal, aqui tem espaço pra todos. Voltamos com nossa programação normal. Nossa nave muito louca nos leva para mais uma viajem insólita. 

Embarcaremos nessa edição para os anos 90. Isso, os saborosos anos de Collor, fusca, Lilian Ramos sem calcinha e do Tetra campeonato. Mas como sempre falando de discos, bandas e afins.

O ano em questão é 1996, passando da metade da década e o disco que relembraremos hoje é “Rappa Mundi”, segundo trabalho dos cariocas O Rappa. Palmas pra ele.

A bomba lançada pelos Raimundos em 94, que simplesmente colocou de cabeça pra baixo todo mercado fonográfico nacional já tinha dado bons frutos, a geração “90” do Rock “Brazuca” começava a ganhar rosto, e com perdão do trocadilho, vinha dando e bem a “cara a tapa”. 

Gente como o pessoal do Planet com o seu “Usuário” (já falei deste), uma galera muito boa de Recife (leia-se Chico Science e sua Nação Zumbi, Fred 04 e seu Mundo Livre S/A, Canibal com seu "Devotos do ódio" no Gangrena Gasosa), o próprio Skank de Minas Gerais, dentre outros, conseguiam dar consistência  ao que a turma muito doida do cerrado tinha começado. 

Dar fim a toda àquela pasmaceira de dor de corno, bundas e bandas de colegas da Cohab. Muito obrigado Raimundos.

Os cariocas do Rappa, tinham se reunido para acompanhar o Jamaicano Papa Winnie (Regueiro do bom) em sua turnê por nosso país no de 93, eram eles Nelson Meirelles, Marcelo Yuca, Lobato e Xandão. Já eram excelentes músicos e tinham trabalhos contundentes no underground carioca. Resolveram formar a banda e colocaram anúncios em jornais e dentre muitas audições resolveram recrutar Falcão. Estava pronta a banda.

Já em 1994, eles lançam o excelente “O Rappa”, que infelizmente acaba passando em branco, apesar de conter clássicos como “Todo Camburão tem um pouco de Navio Negreiro”, uma critica voraz  ao  “apartheid  social” que acontece no Brasil, “ Candidato Caô Caô” releitura do clássico gravado por Bezerra da Silva nos anos 70, o disco acaba sendo pouco compreendido. Já falei algumas vezes de como andava a música brasileira naqueles tempos negros. 

Com o Grande sucesso do Planet em 1995, os caras passam a ser a bola da vez. Aquela formula de misturar vários elementos podia dar certo de novo, e deu.

Eles entram em estúdio, já com outra formação (sai Meirelles e entra Lauro) e gravam o disco que os colocariam no mapa da música nacional.

Vamos deixar de frescura e ir logo para as faixas:

“Rappa Mundi” começa logo de “Cima” com a “Feira”, com batidas envolventes e letra de fácil compreensão, essa verdadeira ode de duplo sentido mostra um cotidiano comum, um cotidiano malandramente brasileiro. Vai para “Miséria S/A”, o dia-a-dia do trabalho informal que todo dia sai para batalhar o “Seu” na honestidade. “Vapor Barato”, do poeta maldito Waly Salomão ganha nova roupagem. “Hey Joe”, do grade Jimi Hendrix ganha aqui uma versão carioca e uma cara brasileira, mas sem perder a ternura com a participação magistral de D2 essa música foi uma das mais executadas nos anos 90. “Ilê Ayê” composta pelo grande Paulinho Camafeu, hino do bloco que leva mesmo nome, também uma critica a divisão racial existente no Brasil. “Pescador de Ilusões”, uma viajem pela cabeça de alguém que clama por esperança. “Uma Ajuda”, a visão de alguém que vê a situação social do brasileiro pelo lado de dentro, imagine um desempregado ou alguém a margem da sociedade vivendo nos dias de hoje. “ Eu quero ver Gol”, essa uma parceria de Falcão e Xandão, mostrando que não havia uma ditadura nas composições, um dia de domingo normal. “Eu não sei mentir direito”, passando mais para o lado do “ska”, nessa faixa o jeitinho brasileiro vem a tona. “O Homem Bomba”, o excluído, o que passa longe, o marginal que fica de fora de tudo, um dia se revolta e cobra o seu. “Tumulto”, o que acontece de real quando a população encontra-se um ponto de revolta contra os governantes, mazelas sociais podem transformar o mais pacifico em um eventual terrorista. “ Lei de Sobrevivência”, como sobreviver e tentar mudar a própria situação, a visão do trabalhador. “Óia o Rapa”, a origem do nome da banda, nessa composição do Lenine.

As rádios tocaram como nunca essas faixas, “A Feira”, “Miséria S/A”, “Hey Joe”, foram logo se transformando em hits. Disco de platina garantido.

Com todo cunho social, e pela importância para o rock nacional medalha de clássico garantida.

A evolução de um disco para o outro e algo realmente marcante, esse disco também mostrou todo talento de Marcelo Yuca, como critico ferrenho da sociedade.

“Rappa Mundi” é um daqueles discos que merecem ser estudados bem, quase 20 anos após seu lançamento continua um disco “político e atual”.

Por que ainda existe muito “PESCADOR DE ILUSÕES”, na “FEIRA” atrás de um “VAPOR BARATO”, ou “UMA AJUDA”, que “NÃO SABE MENTIR DIREITO”, mas curte o “ILÊ AYÊ” e grita “EU QUERO VER GOL”, espera o “TUMULTO”, vira “HOMEM  BOMBA” já que essa é a “LEI DE SOBREVIVÊNCIA”...”ÓIA O RAPA.

Esse disco foi só o prenuncio de “Lado B Lado A”, mas essa é outra história.  Por hoje é só.

Marcelo Guido é Punk, pai, marido, jornalista e professor. “...Ainda quero  ver gol”

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