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quinta-feira, maio 02, 2013

Ginoflex e seu exame de urina (crônica de Ronaldo Rodrigues)

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Ginoflex andava sentindo umas dores na uretra e decidiu fazer exame de urina. Passou no posto de saúde e perguntou para a enfermeira como deveria proceder. Ela explicou, pacientemente:

Quando o senhor se levantar de manhã para urinar, separe a urina num vidrinho e traga aqui. Um dado importante: despreze o primeiro jato de urina.

Ele ficou meio desolado:

Desprezar o primeiro jato? Por que desprezar? Eu não gosto de desprezar nada. Tudo tem sua importância no mundo, na vida. Não é mesmo? Será que não tem outra palavra pra substituir?

A enfermeira queria despachar logo aquele cliente, mas precisava ser educada:

Tudo bem. Vamos falar descartar, então. O senhor deve descartar o primeiro jato de urina.
– Descartar também é uma palavra que eu não uso. Descartar me lembra carteado, baralho. Eu já fui escravo desse vício que é o jogo e não uso palavras que me lembrem desse período da minha vida. Será que não podemos substituir?

Aquilo já estava ficando chato. A enfermeira respirou fundo e sugeriu:

Podemos dizer jogar fora, simplesmente. O senhor joga fora o primeiro jato.
– Jogar fora é o mesmo que descartar e desprezar. Quando eu tiver jogando fora o primeiro jato de urina, vou me lembrar dessas palavras. É possível até que eu não consiga urinar só em pensar que posso pensar nessas palavras.

A enfermeira pegou os últimos raios de paciência que restavam:

Então diga qual a palavra a ser usada. Uma palavra do seu agrado.
– Hummm... Sei lá. Que coisa isso, hein? A gente fica um tempão pensando que palavra usar...

Tempão que eu não tenho, viu, moço? Acho bom o senhor se resolver por uma palavra pra eu poder atender a outros clientes.
– Pois é. Que palavra se encaixa bem no nosso caso?
– No nosso caso não, que nós não temos caso algum. No seu caso. E aí? Qual a bendita palavra?

Ginoflex pensou o máximo que sua mente permite, que não vai além de vinte segundos, e arriscou:

Que tal urinar e pegar só a urina que vem depois do primeiro jato? Acho que é uma boa saída, a senhora não acha?
– Acho. Fica assim, então. O senhor urina e recolhe só a urina que vem depois do primeiro jato.
– Aí a senhora usou outra palavra que eu não gosto: recolher. Me lembra menor abandonado, que precisa ser recolhido pelas entidades assistenciais.

Aí a enfermeira pegou corda:

– Tudo bem, moço! O senhor PEGA a urina que vem depois do primeiro jato! Certo?
– Certíssimo! A senhora é bem decidida. É desse tipo de mulher que eu gosto. Que horas a senhora entra no trabalho, de manhã cedo?
– Ah, não! Assim já é demais! Me assediando, moço?
– Nada disso. Eu só queria que a senhora me ajudasse a urinar. Tá difícil. Eu só consigo com muito carinho...

Ronaldo Rodrigues

3 comentários:

  1. o dó!!! só podia ser o Gino!!!kkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  2. oh, mo'paaaiii, rsrsrs... se eu não conhecesse essa figurinha, pense!!!!!

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  3. oh, mo'paaaiii, rsrsrs... se eu não conhecesse essa figurinha, pense!!!!!

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