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segunda-feira, julho 15, 2013

Reflexões sobre o tal do mercado (crônica de Ronaldo Rodrigues)

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Por que ainda não foi inventado o palito de fósforos de duas cabeças? Seria prático e econômico. Você acenderia o palito por um lado e ainda restaria o outro lado. Simples. O design não ficaria comprometido. Imagine um palito parecido com um cotonete, do tamanho do palito, lógico. Não é difícil pensar algo assim. Deve ser pura má vontade. É o mercado que quer que a gente gaste o palito uma só vez, para vender mais caixas de fósforos.

Dizem que os remédios realmente eficazes não são postos à venda pelo fato de que acabariam com o mercado. A indústria farmacêutica necessita de doentes. São eles que mantêm o mercado. Para eles o mercado reserva paliativos. A doença não pode ser curada, senão os doentes não precisariam comprar mais remédios. E aí o mercado estancaria. Sempre o tal do mercado. E esses remédios são testados nas populações pobres da África, que servem de cobaias para esses macabros experimentos.

Já li que quando há uma grande safra de algum produto, cebola, por exemplo, a maior parte é jogada fora, para manter o preço nas alturas. Para o tal do mercado, é melhor jogar fora do que disponibilizar o produto para pessoas de menor poder aquisitivo. Aliás, pessoas de menor poder aquisitivo não têm poder nenhum para o mercado. O mercado não existe para favorecer os desfavorecidos. Existe para mostrar a eles que são mesmo desfavorecidos.

Começo a pensar nisso e fico preocupado. O mercado, que tudo ouve e que tudo vê, pode não gostar deste texto e ordenar que eu seja eliminado. Acho até que já começou a fazer isso. A maior parte das coisas que o mercado apresenta eu não posso comprar. Sim, sou uma pessoa de baixo poder aquisitivo. Dizer aquisitivo é força de expressão, pois não sou capaz de uma aquisição sequer.

Para o tal do mercado não basta que ele entupa as vitrines de artigos que jamais conseguirei comprar. Ele vai acirrar a perseguição, vai me fazer assumir a mendicância, vai acabar com as ilusões de ter um carro, uma casa, um emprego e um bom salário. Acho que o mercado começou a engendrar esse plano há muito tempo, quando me fez não ter nenhuma dessas ilusões acima citadas.

E isso tudo começou com uma simples inquietação diante de um palito de fósforos de uma só cabeça, coisa que já deve ter inquietado muitas outras pessoas. Vou parar de pensar nessas coisas. Deixa o palito com uma cabeça só. Desculpa aí, seu mercado. Foi mal.

Ronaldo Rodrigues

Um comentário:

  1. Reza a lenda de que fósforo com duas cabeças era uma ideia que Heitor Villa-Lobos (sim, o famoso compositor) pretendia implantar quando foi noivo da filha de um fabricante de fósforos, em Paranaguá-PR - mas tudo isso pode não passar de uma invenção do 'Villa'...

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