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quinta-feira, julho 04, 2013

Discos que formaram meu caráter (Parte 25) - Standing on a Beach (The Singles)- The Cure (1986) - Por Marcelo Guido

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Muito bem, moçada, voltamos para nosso compromisso de toda semana. Sim, estamos de volta para nossa tórrida e agradabilíssima viagem por discos, bandas e afins.

Nossa indomesticável e muito louca “maquina do tempo” nós leva para a década de 80, amigos adentraremos através dessas linhas tortas nos primorosos, perdidos, mas, por que não muito divertidos “anos 80”.

O ano em questão é 1986, e nosso Brasil tropical vivia uma espécie de “lua de mel”. O Rock in Rio I (1985) começava a dar frutos e bandas de rock nacional pipocavam a todo o momento. Nossos tão assustadores generais, que outrora tocavam o terror na ditadura militar, se viam agora vestidos em pijamas e viam sem opinar todo aquele frescor jovial tomando conta do pedaço. É sempre bom lembrar que aquelas múmias com cara de avô brabo, são ávidas para chegar ao poder de novo e pasmem ainda tem gente que apoia. Estamos de olho.

Mas como isso aqui não é aula de história e nem palco político, vamos ao que realmente nos interessa já que estamos aqui para falar de discos. A bolacha que eu, diga-se de passagem, muito feliz, apresento para uns e relembro pra outros é a gloriosa coletânea “Standing on a Beach” do The Cure. Palmas pra ela.

O popular “disco do velho na capa”, foi gerado com o melhor que a banda de Crawley, Inglaterra, havia produzido e lançado entre os anos de 1979 a 1985. Ou seja, o melhor que a sombria banda de Robert Smith tinha apresentado em seus discos até aqueles dias.

Lembrando que o nosso então atrasado país, não dispunha ainda de um mercado contundente para bandas internacionais, e essa coletânea acabou por iniciar muitos (inclusive eu) na arte de ouvir, entender e compreender o que aquela figura bizarra, com cabelos magistralmente desgrenhados e batom vermelho na boca (falo aqui de “Bob” Smith e não daquela sua tia velha e gorda e quer sair em todas as fotos da festa) queria dizer com letras como “A Forest” e “Primary”, por exemplo.

Era o nosso “debú” (sei, isso é meio gay) no pós- punk, e não tinha como ser diferente. Pegamos o melhor da banda que mais representa esse movimento (calma cults, eu também gosto de Sisters of Mercy, Bauhaus, The Mission e nutro uma certa e particular paixão pela Siouxsie). É que o The Cure é diferente.

Vamos as faixas:

O disco começa muito bem com a singular “killing an Arab”, originalmente lançada em 79, é inspirada no livro “O estrangeiro” de Albert Camus, e com seu instrumental sombrio e com linhas de baixo bem colocadas junto a uma batera prontamente delineada nos convida para a viajem. “Boys Don`t Cry” também de 79 vem em seguida colocando todo mundo pra “dançar olhando para parede”. Essa música dispensa maiores comentários ela com certeza foi o que lançou a “Cura” para o mundo (os fodas entendem). 

Segue com “Jumping Someone Else´s Train”, também de 79, é encorpada e não deixa a peteca do disco cair, lembra muito a música anterior. “A Forest”, entrando nos anos 80, uma viajem muito bem escrita e contada, uma representante da fase “gótica” da banda, mostra como seria a “Atmosfera” do som dos caras. “Primary”, de 81, é uma singela homenagem a Ian Curtis (falecido em 1980) que os fodas sabem quem é. “Charlote Sometimes”, também de 81, soturna, mostra também a atmosfera do The Cure, inspirada em outro livro o romance infantil (que leva o mesmo nome) de 1969, da autora Penélope Farmer, muitos versos da canção remetem a estrofes da história. 

Continua com “The Hanging Garden”, de 82, com uma batida que lembra uma “parada militar”, parece convocar as criaturas da noite, que habitam um Jardim suspenso, que pode estar dentro de você. “Let´s Go To Bed”, de 82, começa a quebrar o “Ar Gótico” da banda, um momento negro que os caras estavam passando, com brigas internas talvez mudar o um pouco o estilo seria uma maneira sarcástica de terminar com o grupo. “The Walk”, de 83, a descoberta comercial do The Cure. “The Lovecats”, de 83, outra com inspiração literária, “O Vivi Sector” de Patrick White, cujo em seu romance um personagem afoga um saco gatos vadios, os bichanos representam na música os membros mais inocentes e vulneráveis da sociedade. 

Em “The Caterpillar”, de 84, a beleza interior que cada um, guarda dentro de si. “In Between Days”, de 85, com seu inesquecível solo inicial de batera, uma ode ao envelhecimento e a perda dos medos. “Close To me”, de 85, encerra de forma magistral o disco, dançante e pra cima, deixa sempre um gosto de quero mais.

A ordem cronológica respeitada, um disco que mostra todas as fases então percorridas pela banda, do basicão praticamente cru, dos tempos de “Killing Na Arab” , para a fase gótica com “A Forest”, passando para uma verdadeira metralhadora de canções pop com “ In Between Days”, mostrando toda sua importância para o rock nacional e para a vida de muitos que como eu acabam por se encontrar  nessas letras, não pode ficar de fora. Merecida “medalha de Clássico”.

Desnecessário falar que o disco foi um sucesso de vendas no Brasil, recebendo platina dupla e os caralhos, as rádios executaram as músicas ao máximo e isso fez com que Robert e sua trupe já aportassem por aqui em 1987, uma excursão de oito shows (dois em Porto Alegre, um em Belo Horizonte, dois no Rio e três em São Paulo).

Uma curiosidade sobre esse disco é que ele foi relançado com o nome de “Staring at the Sea” (o mesmo nome do VHS que chegou por aqui nos anos 80) e ganhou mais quatro faixas “:  10:15 Saturday Night”, “Play For Today”, “Other Voices” e “A Night Like This”.

A importância desse disco é muito grande dentro da vida de muitos que conheço e por que não dentro do rock brazuca, muitos de meus velhos amigos têm pelo menos uma das faixas desse LP eleitas como preferida e na boa, escute com atenção “Tempo Perdido” (disco “Dois” Legião Urbana) e encontre “Primary”, ela esta lá escondida. 

Quase 30 anos após seu lançamento, essa bolacha continua relevante é obrigatória na estante de qualquer um que se mete a entender de Rock.

É isso.

Marcelo Guido é Punk, pai, marido, jornalista e professor. “É Chu mais um disco pra você...”.

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