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segunda-feira, abril 08, 2013

“A CURA” PARA O MEU VÍCIO DE INSISTIR... ( por Nilson Montoril)

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Há tempos, prometi ao Elton Tavares escrever algo sobre rock, como era o cenário “das antigas”, como foi a descoberta do que ele intitula “o ritmo mais legal do mundo”... passou um tempão para escrever algo digno do blog do “Godão” (também passou um tempão para que eu passasse a gostar do dono do blog...rs..) mas a oportunidade de rever uma grande paixão me fez largar a preguiça...falo do The Cure, que por minha vez chamo de a “banda mais legal do mundo”.

Dirão que sou suspeito...admito que no que concerne ao The Cure tudo para mim é superlativo, fã incondicional que sou da banda. Não, não somente coisa de fã, mas, sim, de cúmplice. De todas as bandas que conheço (e creiam, não são poucas) nenhuma foi mais emblemática em meus 40 anos de vida do que a trupe do senhor “Bob” Smith, embalando noites e noites acompanhando de um bom DOM BOSCO, SANGUE DE BOI ou TAMANDARÉ (para nossa turma, notadamente nossos bolsos, LAMBRUSCO era coisa impensável. Falo do final dos anos 80 até meados dos anos 90...

Mas até chegar ao CURE (para os íntimos) precisamos voltar à época em que tudo começou. Lá por volta de 1986, 1987, havia uma turminha muito boa “setor”: Cláudio “Sonhador”, Adriano Joacy que, quis o destino, ficasse conhecido pela singela alcunha de BAGO DE GARROTE (ou apenas BAGO para os “chegados”), “Bibinho”, “Heman, Airan, Aryzinho, Marcos “Bundex” Leal e, dentre outros, este relator.



O quarto do Adriano foi durante anos o ponto de encontro da turma que começava a descobrir o rock. Na base do vinil e fitas K7, o melhor do cenário nacional e internacional era degustado com avidez...lembro que as únicas bandas amapaenses de rock conhecidas na época eram a MISANTROPIA, DESERTORES DA PÁTRIA (do mestre Bicudo e do General), PRISIONEIROS DO LAR (do Bago, Black Sabá – de Sebastião mesmo – e do pessoal da hoje banda católica ETERNA ALIANÇA) e CIDADE OCULTA (Célio “Van Smith”, Alexandre “Patife”, Helder Melo e – ele, sempre ele – Bago ou Adrian Harry Boy...rs). Não tínhamos essa profusão de bandas que graças ao Bom Deus hoje inundam Macapá.

Naquele quarto ouvíamos IRA, CAPITAL INICIAL (quando prestava), PLEBE RUDE, LEGIÃO URBANA (tu jurava que ia ficar fora da lista?), GAROTOS PODRES, INOCENTES, ZERO, PARALAMAS (sério, preciso dizer que é DO SUCESSO?), TITÃS (já foram muuuito legais, acredite) e mais.

Mas as atenções eram voltadas, sobretudo, para o cenário internacional. Digo sem dúvidas que presenciamos o lançamento de discos seminais de bandas que hoje em dia são cultuadas (por quem sabe o que é bom) como dinossauros do rock mas que eram iniciantes ou pouco expressivos em muitos casos: DURAN DURAN, ECHO & THE BUNNYMEN, JOY DIVISION, THE JESUS & MARY CHAIN, THE MISSION, MORRISSEY, THE SMITHS, SIOUXSIE AND THE BANSHEES, SISTER OF MERCY, BAUHAUS, REM, THE POLICE, U2, XMAL DEUTSCHLAND, SEX PISTOLS, THE CLASH e um infinidade de bandas que chega a ser até injusto relacioná-las com receio de ficar algum de fora…depois, nos anos 90, além da turma de Seatle, surgiram “na Ilha” SUEDE, STONE ROSES (que merece muita atenção), RIDE (outra magnífica banda), PULP (idem), BLUR, OASIS, etc...



No meu caso, no entanto, a paixão tem baixo simples e marcante, guitarras bem elaboradas, teclados etéreos e bem dosados, já foi punk, dark (título repudiado), pop, hoje é cult e tem como líder um ser que continua usando batom carmim, cabelos cuidadosamente desgrenhados, que tem uma voz inconfundível e que, com os demais membros, há décadas mantém e conquistas corações pelo mundo.


Lembro-me quando o Bago me emprestou umas fitas gravadas por um primo nosso, o lendário Velton ... ”ouve que tu vai gostar!”... bendito seja, pois já são 25 anos de convívio com a discografia, vídeos e livros. Peguei todos os lançamentos do DISINTEGRATION (1989) para cá e tive a oportunidade de assistir a banda por duas vezes em 1996, por ocasião do último Hollywood Rock.

Sobre o show de sábado 

Acabo e chegar da apresentação do The Cure na Arena Anhembi, em São Paulo (06.04.13). Compus uma caravana de amapaenses, em torno de 20 amigos, que mesmo isolados no momento do show, compartilharam uma noite memorável. Contrariando o que alguns jornalista sem embasamento algum postaram na imprensa, o show foi longe de ser morno. Ao contrário, foi intenso e surpreendente do início ao fim, e se a platéia aparentemente ficou “apática” era só porque, na verdade, estava contemplativa, pois muitas músicas da banda são uma imensa viagem, bastando ver a reação dos fãs ao final de cada canção.

A sequência das músicas foi muito bem elaborada, com todos os hits que fizeram a alegria dos ouvintes não muito conhecedores da discografia da banda, dos curiosos que logo abandonaram o show (Perdoai, não sabem o que fizeram...), quanto dos quarentões (e aqui me enquadro) que devoraram avidamente. 
HIGH, THE END OF THE WORLD (do álbum THE CURE, trabalho menos palatável) a belíssima (jóia do WISH), LOVESONG DUSINTAGRATION), PUSH e IN BETWEEN DAYS (ambas do antológico THE HEAD ON THE DOOR, que lançou a banda bo Brasil em 1986), e JUST LIKE HEAVEN, uma das minhas preferidas, feita para Mary Smith, patroa do vocalista. 

Não esperei que FROM THE EDGE OF THE DEEP GREEN SEA empolgasse quem não é fã, mas tinha certeza que PICTURES OF YOU, LULLABY e FASCINATION STREET arrebatariam o público, como de fato foi. SLEEP WHEN I'M DEAD, reconheço, é uma música pouco trabalha em shows e pertence a série de composições mais “recentes” e não cai tão bem em um show onde muitos estavam “perdidos”. 

Contudo, PLAY FOR TODAY, A FOREST (clássicos ano 1980 by SEVENTEEN SECONDS), BANANAFISHBONES e SHAKE DOG SHAKE (álbum THE TOP, 1984), CHARLOTTE SOMETIMES (lançada apenas em single na época do album FAITH (1981) e THE WALK (da coletânea JAPANESE WISPHERS, 1984) fizeram a festa dos veteranos. 

MINT CAR, FRIDAY I'M IN LOVE (todo mundo pulando e cantando), DOING THE UNSTUCK, TRUST, WANT, THE HUNGRY GHOST e WRONG NUMBER foram pinçadas de albuns mais recentes, a saber, WISH (1992), WILD MOOD SWINGS (1996), um disco para, por raríssimas exceções, ser esquecido, e THE CURE (2003).  

Em seguida ONE HUNDRED YEARS (canção abertura do álbum ícone da fase “dark”, PORNOGRAPHY, de 1982) e, propositalmente, END (WISH), bem sugestiva para o fim da primeira parte do show.

No regresso uma mudança em relação ao show do Rio de Janeiro: no lugar de PLAINSONG, PRAYERS FOR RAIN e DISINTEGRATION (do álbum DISINTEGRATION, 1989, o melhor de todos na minha modesta opinião) resolveram tocar THE KISS, IF ONLY TONIGHT WE COULD SLEEP e FAITH, todas no segundo melhor disco (para mim, fique bem claro), o KISS ME, KISS ME, KISS ME, de 1987. Não digo que foi ruim, principalmente para os fãs de verdade, que mesmo assim raramente já as ouviram em algum show...mas seria melhor manter as canções do RJ, sem dúvida (rapaz, o teclado de PLAINSONG é matador...mas tudo bem...)

Por fim, se DRESSING UP do álbum THE TOP não empolgou (eis outra pérola incompreendida por falta de divulgação nas rádios), sem dúvida as mais dançantes musicas foram deixadas para o final: THE LOVECATS, THE CATERPILLAR, CLOSE TO ME (com direito a dancinhas e gargalhadas do Bob), HOT HOT HOT!!!, LET'S GO TO BED, WHY CAN'T I BE YOU? (já me questionei muito sobre isso...rs), até as batidas mas deliciosas BOYS DON'T CRY, 10:15 SATURDAY NIGHT, e KILLING AN ARAB.

Não foi um show... foi uma apoteose! Infinitamente melhhor que as duas apresentações que assisti em 1996. Como vinho, cada vez melhores com o tempo

A banda estava em casa e feliz, sem dúvida, muito à vontade no palco, em particular ao rechonchudo ROBER SMITH (com quem me identifiquei plenamente...kkk), ROGER O’DONNEL (teclados) ... e mesmo a face carrancuda da minha inspiração ao baixo, SIMON GALLUP, era puro teatro. E o velho REEVES GABRELS, ex-guitarrista de David Bowie? Muita técnica e peso em deram nova roupagem para antigas canções...o que esperar de novos projetos? PESO, PESO, PESO.

Se não pode mais ser considerada headliners em festivais não significa necessariamente estar no ostracismo. Do lado de baixo do Equador o The Cure impera e mantém a mística conquistada em 37 anos de existência.

E assim, executadas 40 canções em mais de 3 horas de apresentação, com direito a muitos sorrisos e danças que levaram a platéia ao delírio, para mim (e muitos) ficou evidente uma verdade: em uma época de músicas descartáveis, de bandas de um sucesso só e artistas que nada representam, o The Cure provou os motivos de sua longevidade, de ser uma fábrica de hits, de manter um legião de fiéis seguidores de várias gerações e deixou a sensação de que muito ainda veremos de significante antes do inevitável fim.

E aqui estaremos prontos para novo encontro, que será em breve, segundo a despedida de Robert Smith. LET’S GO! Enquanto isso, em tempos de Luan Santana, Thiaguinho, Calypso e MC’s da vida, insisto em me dedicar ao “som mais legal do mundo”...sem nenhum sacrifício, garanto...

Nilson Montoril Junior, advogado e amante de Rock And Roll, em especial do The Cure.
*Clique nas fotos para melhor visualizá-las

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